quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O capitão injustiçado

por Fernando Lopes


Até bem pouco tempo atrás, o atual técnico da Seleção Brasileira, Carlos Caetano Bledorn Verri – o Dunga – era chamado de “burro” pela torcida. Depois de ter derrotado a Argentina por 3 a 1, na noite do último dia 5 de setembro, passou a receber o respeito, já merecido há tempos.

Injustiças fazem parte da carreira de Dunga. Após o fracasso brasileiro na Copa de 1990, foi crucificado, escolhido o “responsável” pela derrocada brasileira diante da Argentina. De quebra, ainda foi cunhada a expressão “Era Dunga”, sinônimo de futebol feio e retranqueiro.

Dunga era um verdadeiro xerife dentro de campo. Marcador raçudo, nunca fez as firulas que o brasileiro tanto gosta de ver nos jogos da Seleção. Não era, e continua não sendo, adepto do chamado “futebol arte”. Mas isso não significa que tenha sido um mau jogador.

Em 1994 nos Estados Unidos, Dunga liderou dentro das quatro linhas uma seleção desacreditada e atormentada pelo fracasso da Copa anterior. Levantou a taça. Era o tetracampeonato. O fantasma de 90 havia sido espantado. O camisa 8 passava a ser um capitão excepcional.

Apesar de uma nova derrota, na final da Copa seguinte – 3 a 0 para a França, dona da casa – as atenções não caíram sobre o capitão Dunga. O craque Ronaldo foi o centro de uma história misteriosa horas antes da final. As imagens que ficaram dessa, que foi a última Copa de Dunga como jogador, foram: a “quase briga” dele com Bebeto durante a formação de uma barreira, o curativo feito com um pedaço de meia para estancar um sangramento na perna – durante as oitavas-de-final contra o Chile, a comemoração ao marcar na disputa por pênaltis na semi-final contra a Holanda.

Dunga voltaria à Seleção Brasileira oito anos após a Copa da França. Em 24 de julho de 2006, depois do fracasso de Carlos Alberto Parreira na Copa do Mundo da Alemanha, foi nomeado técnico – posto ocupado até hoje.

No início, a escolha foi encarada com desconfiança, devido à falta de experiência do ex-capitão como treinador. Entretanto, o “jeito Dunga de ser” se impôs, ele ajeitou a casa, trouxe raça e determinação para o selecionado. Isto fez com que ele se firmasse no cargo.

Os resultados impressionam. Em 47 jogos são 33 vitórias, 10 empates e apenas 4 derrotas. Faturou dois títulos importantes, a Copa América e a Copa das Confederações. Além disso, classificou a Seleção Brasileira para a Copa da África do Sul, no ano que vem, a três rodadas do fim das eliminatórias.

Alguém aí se arrisca a chamá-lo de burro?


Nenhuma Seleção sem um dunga passou pelas oitavas.

Luís Fernando Veríssimo, dunguista assumido.